Este post acaba de ser excluído do Instagram. É uma reflexão que me veio após ter lido «Worship in a Violent World», texto fundamental em que James Alison explica que, sob certo aspecto, a missa católica é o contrário de uma daquelas gigantescas manifestações que os nazistas organizavam na cidade de Nuremberg.
Pesquisando um pouquinho de nada essas manifestações, descobri que elas duravam dias, e que começaram antes mesmo de o Partido Nazista chegar ao poder. Imediatamente me lembrei também do ótimo filme Una giornata particolare, de Ettore Scola, em que os moradores de um prédio enorme vão todos — à exceção dos personagens de Sophia Loren e de Marcello Mastroiani— ver a visita de Hitler e do alto comando nazista.
Foi então que percebi: peraí, essas pessoas todas iam porque queriam. Isso, é claro, torna esses eventos ainda mais sinistros. Porque quando vemos aqueles grandes comícios e grandes desfiles soviéticos, o clima é meio de prova do ENEM, todo mundo parece estar lá por obrigação, para evitar que o vizinho diga à KGB que seu fervor revolucionário na verdade deixa um pouco a desejar. Tanto que existe uma história — onde foi mesmo que eu li? que eu vi? — que até nos eventos da alta burocracia soviética, você nunca podia ser o primeiro a parar de aplaudir — era mau sinal. Assim, os aplausos sempre se alongavam…
E então juntei isso com outra coisa: o comunismo sempre esperou que um dia as massas fossem levantar-se. Um dia, o povo, farto de ser explorado, pegaria em armas contra seus exploradores. Esse dia nunca chegou. Onde houve e há comunismo, foi porque uma elite organizada e armada tomou o poder — essa elite nunca jamais chegou lá nos braços do povo. Por outro lado, quando Hitler anexou a Áustria, não foi celebrado pelo povo austríaco?
Assim, o nazismo realizou o sonho do comunismo: ser querido pelo povo. Comecei a imaginar o comunista, que hoje tem suas teorias da cultura, sua hegemonia midiática e universitária, vendo aquelas manifestações de Nuremberg… e sentindo uma inveja do cacete.
Eis o texto retirado pelo Instagram.
Os ciúmes do comunismo
A história do comunismo e do nazismo parece a história de dois irmãos numa peça de Shakespeare. Filhos do mesmo ressentimento que anima todo socialismo, eles até foram parceiros um dia, mas o comunismo teve ciúmes da popularidade do nazismo.
A revolução russa levava à guerra civil, ao caos, à irrupção de mil vinganças ancestrais. O comunismo tinha de ser imposto de cima para baixo. Enquanto isso, na Alemanha, o nazismo organizava manifestações que duravam dias, e às quais as pessoas iam… espontaneamente.
Sempre que vemos algum retrato da vida na União Soviética, o que prevalece é o cinismo. Parece que o russo acredita no comunismo assim como o brasileiro acredita no ENEM: sei lá, deve ser isso, nunca vi outra coisa. As pessoas eram mortas pelo Estado por não conseguir acreditar.
Enquanto isso, na Alemanha… Mesmo antes de tomar o poder, o Partido Nazista já organizava aquelas manifestações enormes. Repito: as pessoas iam porque queriam. E na Itália fascista? A mesma coisa. O nazismo obteve rapidamente um apoio popular que o comunismo nunca conseguiu.
O nazismo era do povão. Kitsch, cafona, burro. Uma festa elegante com gente atlética, levantando pesos, tomando cerveja, e intimidando os fracotes. O comunismo era o irmão intelectual, com um arsenal secreto de perversidades, sonhando com o dia em que seria igualmente amado pelo povo.
Tanto que, depois de ver que sua revolução imposta de cima para baixo não convencia ninguém, o comunismo passou a se preocupar com a «dominação cultural», isto é, com a sedução do povão e da classe média. Eu fiz tudo, mostrei que era forte também, e não me amam?
O comunismo derrotou o nazismo, verdade. Mas será que até os exércitos de Stálin não sabiam que estavam sendo feitos de bucha de canhão, ao passo que os nazistas, em menor número, tinham a bizarra vantagem de… realmente acreditar naquela porcaria?
Assim, quando vejo a esquerda gritar «nazismo» para qualquer coisa, penso no russo que só ia ver Stálin falar para não ser preso, e no alemão que ia ver Hitler porque queria. O comunismo até hoje tem ciúmes. Agora que ele conquistou algum espaço, a ideia da volta do irmão popular é insuportável.