O vídeo acima pressupõe a leitura dos textos da missa de hoje:
Leituras de hoje em português.
Leituras de hoje em inglês.
E, é claro, não posso deixar de ressaltar minha dívida com James Alison e o indispensável canal Praying Eucharistically.
Cresci com a sensação — que talvez nunca tenha ido embora — de que o mundo não tem sentido nenhum; o sentido pode no máximo ser vislumbrado às vezes, e boa parte do esforço humano consiste em não esquecer esses vislumbres. Talvez por isso eu tenha me refugiado nos textos. Os textos são pequenos mundos com sentido. Mas é óbvio, também, que os textos fazem parte do mundo e que apontam para um sentido que está no mundo. Os textos também podem ser aqueles vislumbres.
Em grande parte, creio que meu fascínio atual pela Bíblia vem de eu descobrir nela uma organização — um pouco desorganizada, talvez providencialmente — dessa experiência. Pressentindo um certo nonsense no mundo, pedimos aos céus que exista alguém capaz de justificar o injustificável. Essa, até, é a experiência fundamental da poesia de Camões, que se perguntava: quem não nota o desconcerto do mundo? Ela também não está muito distante daqueles adesivos de carros que nos advertem: «Reencarnação: uma questão de justiça».
Não que eu creia em reencarnação. Aqui estou falando justamente do contrário: a organização de textos pode nos levar de uma concepção inicial, baseada no pressentimento de que há uma hostilidade no nonsense do mundo, à admissão de que precisamos de alívio, de um refrigério, à dissolução das ilusões criadas pela nossa raiva, e terminando numa situação fascinante, inconcebível naquele ponto inicial, em que temos a máxima responsabilidade, e também o maior bônus.
Foi isso que vislumbrei na seleção de textos que a Igreja Católica fez para a missa de Cristo Rei do ano A, e devo dizer, antes de prosseguir, que eu não teria entendido nada do que vou dizer abaixo sem ter acompanhado todas as homilias recentes de James Alison para os capítulos do Evangelho de Mateus que antecedem a Paixão.
Aqui vai um pequeno resumo — ele pressupõe que o leitor vá acompanhar os textos.