141 Meu método para escrever sem distrações
Guardar a atenção é fundamental para a vida como aventura (e o Seminário começa este sábado, hoje mesmo, dia 21/06!)
Recentemente recordei Neil Postman, que adverte que a tecnologia dá, mas também toma. Não serei nada original se chamar a atenção para aquilo que sabemos que a tecnologia nos toma: nossa atenção, nossa concentração.
Prestes a começar — neste sábado, 21/06, às 16h (você consegue se inscrever até umas 15h55 sem problemas, e de todo modo as gravações ficam disponíveis) o Seminário Grandes Textos 02: «A vida como aventura», impossível não notar a conexão entre a tecnologia e a maneira de ver a vida. Essa «maneira de ver a vida», como falei na apresentação do seminário, no mais das vezes não vem tanto de uma perspectiva que construímos deliberadamente, mas é apenas uma tradução de algo que como que está «no ar», daquilo que pegamos da cultura, e, é claro, do nosso uso da tecnologia.
Na apresentação, falei de como a tecnologia, como o PowerPoint, cria e dissemina formas mentais que são alheias à vida como aventura, que era o pressuposto semiconsciente das gerações talvez até a minha. Neste texto, vou explicar como faço para minimizar o impacto negativo dos eletrônicos da minha vida, preservando uma abertura ao inesperado ao mesmo tempo em que sigo fiel às finalidades que eu mesmo determinei. Com o perdão do clichê, é preciso usar a tecnologia mais do que ser usado por ela.
Mas vale recordarmos uma noção importante antes de eu apresentar meu método.

Ainda e sempre a «contraprodutividade»
Você usa o seu carro como um meio veloz de chegar ao trabalho, de aumentar o tempo disponível para si mesmo, ou trabalha para poder pagar pelo carro no qual você fica preso no trânsito indo e voltando do trabalho?
A pergunta pode ter um cheirinho de «crítica ao capitalismo», mas é uma mera questão de bom senso. E, mesmo tendo sido feita há mais de cinquenta anos por Ivan Illich e Jean-Pierre Dupuy, ela ganhou uma nova urgência quando, após a pandemia, muitos trabalhadores preferiram não voltar do trabalho em casa, desdenhando solenemente da «cultura da empresa».
É com essa pergunta que Dupuy ilustra sua noção de «contraprodutividade». Caso tivesse explicado essa noção pela primeira vez em 2025, talvez Dupuy a ilustrasse com o computador — entendido num sentido lato que engloba tablets e smartphones — em permanente conexão com a internet, que, ao nos dar acesso a todas as informações, a todos os métodos de trabalho, nos distrai das nossas finalidades.
Aqui, penso na distração nossa de cada dia. Você liga o computador, e de repente quer consultar alguma coisa. Lê uma notícia, um texto, se pergunta se está muito frio em Buenos Aires, se a Cristina Kirchner enfim vai para a cadeia… Hm, estou vendo aqui que ela acabou na prisão domiciliar. Você tem seus planejamentos, seus métodos, seus trackings, todos os dias você pensa na palavra «produtividade», e mesmo assim se sente frustrado. Seu MacBook não fez de você um Leonardo da Vinci, seu iPhone se tornou indispensável, mas hoje você não se sente melhor do que ontem.
Qual a finalidade?
A minha finalidade fundamental com minhas várias engenhocas é a escrita. E, com este texto, pretendo justamente falar de como evito, com algum sucesso, tudo aquilo que pretende desviar minha atenção do que pretendo fazer antes de pegar as engenhocas..
Vale ressaltar, com ênfase, que não vou trazer aqui a receita infalível para acabar com as distrações. Na verdade, acredito que o próprio foco insistente em «resultados» e a busca por hacks (o que é um hack se não um atalho para um resultado?) faz parte do problema. Não pretendo fazer do computador um bode expiatório.
E eu mesmo tenho uma grande tendência a me enrolar, a calcular mal meu tempo, e, tendo ultrapassado meus limites, a ficar muito tempo imobilizado pela fadiga. Por isso, eu jamais proporia a mim mesmo como modelo de «alto rendimento». Porém, recentemente cortei toda a cafeína, acrescentei um elemento ao meu processo de escrita, e passei a ter resultados bem mais constantes. Não é uma bala de prata, não é um hack, e, se você não quiser ler o texto todo, lá vai: passei a escrever usando um smartphone antigo, quase sem aplicativos, com um teclado Bluetooth; a minha solução funciona bem no mundo Apple porque uso o aplicativo Ulysses.
Dito isso, explico os passos.